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04 Março 2021

Economia Angolana: Decisão da OPEP+ Ajuda Cofres Públicos

DECISÃO DA OPEP+ AJUDA COFRES PÚBLICOS

O cartel surpreendeu o mercado ao manter a produção inalterada

A OPEP e seus parceiros decidiram manter um limite apertado na produção de crude em Abril, levando a uma forte valorização do seu preço num mercado que esperava um aumento da oferta. O cartel debatia se havia de repôr até 1,5 milhões de barris por dia (bpd) no próximo mês, com a Arábia Saudita ainda a reter um milhão de bpd em cortes voluntários de produção e demonstrando que não tem muita pressa em fazer regressar esta oferta. A decisão da OPEP+ foi não só uma surpresa, mas indica também que o mercado mundial vai estar mais limitado nos próximos meses.  

Perspectivas favoráveis para o preço do crude

O preço médio do Brent rondou os 58 USD nos primeiros dois meses deste ano, subindo mais de 30% desde o final de 2020 para transaccionar actualmente acima dos 67 USD. Esta evolução deve-se acima de tudo aos cortes na oferta por parte da OPEP+ e algum optimismo sobre a recuperação da economia mundial que poderá levar a um aumento da procura de crude. Entretanto, os investidores estão cada vez mais optimistas em relação à evolução do preço do petróleo, com o crescimento da procura a poder ultrapassar o nível de oferta que a OPEP+ puder vir a repôr no mercado. De facto, alguns investidores antecipam que o preço possa atingir os 75-80 USD até ao verão, altura em que a procura é mais elevada. De salientar também que alguns investidores acreditam que o preço do Brent possa voltar a cotar acima dos 100 USD nos próximos 18-24 meses assumindo que a melhoria dos fundamentos económicos levará a um crescimento mais rápido da procura, a produção da OPEP+ manter-se-á contida e a falta de investimento manterá a oferta de petróleo de xisto limitada nos EUA. Esta previsão está longe do consensus todavia, com as projecções actuais a apontarem para um preço médio um pouco abaixo dos 65 USD até 2025.

Angola poderá registar um superávit orçamental em 2021

Na nossa nota “Virar da Página da Recessão em 2021?” publicada em Fevereiro, nós fizemos uma análise de sensibilidade com o impacto potencial de diferentes preços do crude nas contas públicas este ano. Incluímos os resultados desta análise mais uma vez na página seguinte desta nota. A conclusão é clara: o governo angolano poderá registar um superávit orçamental em 2021 (para o mesmo nível de despesas já assumidas no OGE) se o preço do petróleo se mantiver nos níveis actuais. Como exemplo, se o preço médio do crude atingir os 60 USD este ano então o governo registaria um superávit representando 3,0% do PIB. Relembre-se que o orçamento actual prevê um défice de 2,2% do PIB assumindo um preço médio de 39 USD.

Um preço do crude mais alto proporciona uma enorme ajuda

O governo continua a reiterar o seu empenho na consolidação das contas públicas e na sua agenda de reformas que visa restaurar a estabilidade macroeconómica, recuperar o crescimento sustentado através da melhoria da diversificação fora do sector petrolífero. Apesar disso, a dívida pública continua muito elevada, com este rácio a atingir mais de 130% do PIB em 2020. Isto reflecte a forte depreciação do kwanza nos últimos anos (mais de 80% da dívida pública está denominada ou indexada a moeda estrangeira) e a recessão desde 2016. Apesar da queda continuada na produção de crude, as perspectivas para o seu preço são uma notícia positiva para Angola, já que ajuda a recuperação económica e as contas públicas do país, enquanto que a recente estabilização do kwanza deverá contribuir para a sustentabilidade da dívida. Angola poderá não estar ainda perto de ver uma melhoria na avaliação das principais agências de rating. Mesmo assim, o governo deveria aproveitar a enorme ajuda que um preço do petróleo mais elevado deverá trazer nos próximos meses.